Infelizmente, 50 anos depois, somos obrigados a agradecer os nossos direitos constitucionais "oferecidos" pelo MPLA e devemos fazê-lo de forma estridente elogiando a magnanimidade e a amabilidade do líder que apenas ouve os elogios. 50 anos depois a educação primária não é universal, apesar de obrigatória, o seu programa é deprimente e as condições da maioria das escolas são um pesadelo, sem água, sem sonhos e sem futuro. 50 anos depois importamos o que devíamos produzir e não temos coragem para nos despedirmos do gerador (os que têm gerador).
50 anos depois a indiferença institucional tornou os pobres invisíveis a todas as prioridades. Ignorou a taxa de fecundidade não obstante o tamanho do elefante ser épico e causar sérios constrangimentos à garantia da equidade imperativa para um crescimento social e económico sustentável. 50 anos depois somos um povo dependente da cunha para garantir emprego, casa na centralidade, acesso ao ensino médio e universitário públicos com um governo que vive de mão estendida à ajuda internacional para o auxílio básico às populações como se fossemos o Sudão do Sul.
50 anos depois somos governados pelo mesmo partido que não consegue sequer ser competente para manter semáforos operacionais. Nunca foi consequente nos programas criados por si que são alterados ou abandonados, precocemente, vezes sem conta. Um partido que está em guerra consigo próprio, numa demagoga luta pelo poder interno, que perdeu o foco para o desenvolvimento, para a proteção social e para a estratégia diplomática racional e que desde 2008 descredibilizou as eleições que nunca foram justas.
Um partido que em 50 anos não foi capaz de ser inovador, visionário, construtor de futuro sustentável, tem posto fermento na prepotência e na arrogância devido à consciência da sua falta de credibilidade, perda de apoio popular e ausência de capacidade para controlar os ventos de mudança que estão a ser consequentes em África. A mudança da esperança em 2017 acabou por parir um rato. Um rato despreparado, sem empatia e sem patriotismo, que matou o milagre económico. A Justiça foi tragicamente desprovida de sentido colocando os tribunais superiores num sítio indigno que a todos nos envergonha. Não temos nada para comemorar. Estamos longe do patamar mais rasteiro e elementar da dignidade humana. O Estado está enfraquecido e sem rumo a um porto seguro, as instituições descomandadas e as eleições autárquicas foram esquecidas porque o medo é maior do que o mérito.
O "discurso da comemoração dos 50 anos" devia, moralmente, ser um pedido de desculpas a todos os angolanos que ainda não têm registo de nascimento e por isso não existem. Devia pedir desculpa pelo total fracasso da luta contra a corrupção que falhou de forma olímpica pois só mudaram o nome de algumas moscas. Devia refletir os números da dor do povo com base na tragédia da nossa realidade económica. E devia assumir a responsabilidade pelo abandono de milhões de angolanos estão a passar FOME todos os dias, quando nenhum luxo ou despesa supérflua que diga respeito à presidência foi diminuída ou evitada, antes pelo contrário, o despesismo por ali continua epicamente desconcertante e imoral.